domingo, 18 de julho de 2010

Hipóteses para o amor e a verdade, traz colocações sobre o teatro expandido, o pós-homem e a solidão


Com direção e texto de Rodolfo Garcia Vásquez (indicado ao prêmio Shell) a peça traz aos palcos diversas histórias que funcionam independentes umas das outras como uma colcha de retalhos, mas que tem como ponto de convergência a solidão das pessoas e como elas se relacionam com o amor em uma sociedade fragmentada.
O público não apenas assiste ao espetáculo, como mero espectador, mas é convidado a deixar os celulares ligados e podem receber ligações dos atores e interagirem com os mesmos em cena.
O teatro expandido pesquisado desde Rebabulo da Avareza, Luxúria e Morte, também esta presente em Hipóteses a medida que rompe com o espaço sagrado do teatro e se utiliza de elementos como a internet, as redes de relacionamentos e vídeos para criar outra forma de percebermos o teatro.
Enquanto em uma cena, o Homem-Bomba, conversa com o gerente de qualidade, no palco são projetadas as mesmas imagens, mas de uma forma diferente, sinalizando que cada pessoa enxerga e entende o que acontece de uma maneira muito particular e própria.
A solidão também é vista de diferentes ângulos, o nerd, se relaciona apenas através do computador, por temer que o real, não seja tão verdadeiro, quanto o que ele pode encontrar nas salas de bate-papo.
A interpretação de Phedra De Córdoba como a mulher abandonada pelo filho e que tem apenas a companhia de sua enfermeira é de uma força de interpretação que a atriz nem necessita falar, seus olhos e sua fisionomia transmitem sua belíssima interpretação, desta mulher que espera a beira do precipício a vinda do marido que nunca chega.
A atriz Maria Casadevall apesar de ter tido a difícil tarefa de substituir de última hora outra atriz, interpreta Madalena, que tem como sonho andar de mãos dadas com o filho pelo parque, sem que ninguém a reconheça. Apesar do texto denso e forte, a atriz coloca uma suavidade e leveza na personagem e traz uma carga dramática em sua atuação, que remete a Gloria Menezes em Ensina-me a Viver. Com certeza uma das futuras grandes atrizes dos palcos brasileiros.
O gerente de qualidade da fábrica, interpretado pelo excelente ator Tiago Leal, é um dos pontos de destaque da peça. Em sua busca para fugir da solidão, ele se relaciona com homens, mulheres e tranxessuais e é amante assumido da luxúria. Sua caracterização é um dos melhores momentos da peça e o ator através da simpátia do personagem cria um vinculo com os espectadores.
Adão, interpretado por Paulinho Faria, é um tipico malandro, no bom sentido da palavra, satírico e jocoso, ele busca aplacar a solidão através de milhares de filhos, com o cabelo assim, encaracolado como o dele. Em sua busca pela mulher ideal, acaba conhecendo Madalena e se apaixona. Paulinho Faria traz em sua veia artística um sarcasmo, que ele tão bem coloca no personagem, e faz com que o público se identifique com seu homem perfeito. Paulinho Faria é um dos melhores atores da nova geração e se suas próximas atuações forem tão boas quanto em Hipóteses para o amor e a verdade, terá vida longa nos palcos.
Temos também a Atriz Tânia Granussi como a guia turística dos moradores do centro de São Paulo, Leo Moreira como o homem-bomba e Esther Antunes.
Na parte em que os personagens estão dançando acima do palco, com os rostos cobertos, vemos que não importa o gênero, hetero, tranxessual o corpo é mutável e não o fim.
A peça Hipóteses para o amor e a verdade, não é uma peça fechada, que mostra o desfecho de cada personagem na sua busca pelo amor e o final da solidão, mas deixa ao público as várias possibilidades que são tão fragmentadas como a sociedade atual.
A peça fica em cartaz até o dia 25 de julho, no Espaço dos Satyros 1, Praça Franklin Roosevelt, 214, de sexta a domingo a partir das 21:30 horas e o ingresso custa 30 reais.